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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Barba: um elemento surpresa

Passei praticamente toda minha vida fazendo, regularmente, a barba. De início, quase todos os dias eu a raspava. Depois, fui percebendo que a pele ficava irritada com tanto asseio. O atrito da lâmina nunca foi bem assimilado pela minha pele. Sensível a pele do rapaz, podem pensar. Pode ser, mas eu também penso que seja
falta de habilidade mesmo na arte do barbear. Até hoje demoro uma eternidade para fazer uma barba bem feita, pelo menos penso que a faço de forma competente. Sinceramente, deixar a barba se proliferar é quase sempre uma decisão baseada na pura preguiça mesmo.

O tempo foi passando e a frequência do barbear passou a aumentar: a cada dois dias, quatro dias, uma semana, um mês e agora já passei quase um ano sem raspá-la. Só a aparando, com uma maquininha que se revelou muito útil. Quando me viam, barbado, muitos já emendavam comentários do tipo: que é isso? O que fez com teu rosto? Parece Moisés! Parece um bandido! Uns até perguntavam se era pra eu impor mais respeito, com esse ar circunspeto que emanava dos fios no meu rosto. É, até poderia ser isso. Mas, do alto desse meu grande tamanho intimidador e imponente, nem com a cara infestada de uma barba revoltosa eu botaria medo em alguém. Nesse tempo de barba dominante, recebi alguns elogios, contidos, mas sinceros. Gente que acha que ela combina com minha personalidade, que cai bem, inclusive, com os traços, nervosos, do meu rosto. Pode ser que sim.

É interessante como nos acostumamos com o visual de uma pessoa, quando a vemos todos os dias. De repente, essa pessoa corta o cabelo, por exemplo, e parece mudar tanto. É claro, as mulheres percebem mais essas mudanças. Os homens quando percebem, em homens, as mudanças, é porque não estavam, naquele instante, pensando em, ou percebendo, com o canto dos olhos, alguma mulher. E se for alguma mudança em uma mulher, então, vai perceber fácil qualquer coisa diferente, isso se não for a própria mulher, é claro.

Mas, bom mesmo, é passar meses com uma barba meio descuidada e, repentinamente, raspá-la. Sem avisar nem alertar ninguém. Nessas ocasiões quase sempre recebo um elogio feminino bem discreto, do tipo, hmmmmm, acompanhado de um leve, levíssimo brilho nos olhos. As vezes rola até um ‘melhor assim’. Por mais que seja, geralmente, um elogio inocente e sincero, é o efeito surpresa que nunca canso de causar.

3 comentários:

  1. As vezes, deixar a barba por fazer é apenas uma maneira de expressar alguma revolta com a vida, seja la o que for, tipo: "que se foda tudo"; "se nem com a minha cara eu me preocupo, foda-se o resto". Eu pelo menos sou meio assim.
    O que importa é esta bem consigo mesmo e se para isso for necessario raspa-la, que assim seja.
    Se a repercução da mudança for positiva, ótimo. Se não for, é so se revoltar novamente e deixar os pêlos crescerem 2 vezes mais, para que a mudança da proxima vez seja ainda mais impactante.
    E assim a vida segue, entre centenas de milhares de mudanças e quando menos esperarmos vamos nos deparar com nossas barbas ja brancas e quem sabe até, ensinando nossos filhos e netos a usar a navalha.

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    1. Gostei de suas observações, caro Ivan. Objetivas e viscerais. Essa de ensinar nossa prole a usar a navalha é de uma sutileza interpretativa, que me faz pensar que o ato mais másculo que se pode ensinar para um filho é como lidar habilmente com o fio da navalha.

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  2. Olá, Rob!
    Fico feliz pelo retorno, pois acredito que o blog é uma boa ferramenta pra quem gosta de escrever.
    Quanto a barba, eu, particularmente, acho bem bacana, independente do tamanho. Penso que o ser humano é um insatisfeito de berço e determinados artifícios podem nos dar uma sensação (bem real) de mudança, claro que as mulheres se saem melhor com isso, mas os homens podem surpreender e serem surpreendidos tb com essas diferenças, no caso, uma barba, um bigode, um cavanhaque e por aí vai.
    Quem nunca acordou de saco cheio de sua própria cara? Façamos então, as mudanças possíveis. Pra ser feliz vale!
    Bjão e seja bem vindo

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