A Felicidade me entristece. Olhar
em volta e ver que os casaizinhos riem, falam alto, abraçam-se, beijam-se,
andam, passeiam, correm fitando o outro e rindo de dar gosto me deixa muito,
muito triste mesmo. Não é inveja da alegria alheia não. Isso seria a mediocridade
máxima. Até porque é bom que existam pessoas felizes ao seu redor. Isso diminui
as chances de um amargurado qualquer sacar
uma pistola e sair disparando para todos os lados. O que me entristece é perceber que esses abençoados encontraram pelo caminho a Dona Felicidade e eu ainda sequer encontrei vestígios, fósseis, ou qualquer outra coisa que comprovasse a existência dessa mítica criatura! Enquanto isso, esses outros não se privam de mostrá-la ao mundo com generosos sorrisos e a aparência de que as outras Donas não existem mais (a Dona Tristeza, a Dona Solidão etc).
uma pistola e sair disparando para todos os lados. O que me entristece é perceber que esses abençoados encontraram pelo caminho a Dona Felicidade e eu ainda sequer encontrei vestígios, fósseis, ou qualquer outra coisa que comprovasse a existência dessa mítica criatura! Enquanto isso, esses outros não se privam de mostrá-la ao mundo com generosos sorrisos e a aparência de que as outras Donas não existem mais (a Dona Tristeza, a Dona Solidão etc).
Por que ainda nem esbarrei nessa
mulher? Parece que as ruas que percorro estão fora do mapa da lindinha. Nossos
caminhos não se cruzam e acho que nem nossas rotas possuem o mesmo destino.
Provável que ela jamais se aproximará de mim e tentará bater minha carteira.
Muito provável que ela nunca demorará mais de três segundos olhando meus olhos
se um dia resolver me encarar (isso se eu a encontrar). Certeza que ela nunca
me perguntará a direção para algum lugar que somente eu sei o caminho. Bom
seria andar pela rua e ser parado pela Dona em pessoa e ela, com um sorriso
cativante e aquele jeitinho sempre jovial e lotado de esperanças e expectativas
que indubitavelmente darão certo, viesse me perguntar “Por favor, onde fica a
casa do Robson?”. Se isso é plausível? Não sei, vai que foi assim que aconteceu
com todos os felizardos que vejo andando de mãos dadas com ela?
Outra possibilidade também levo
muito em consideração: eu tê-la encontrado e a bendita tenha se apresentado com
outro nome! Seria muito azar! Imaginem ter a oportunidade de olhar, conversar,
alinhar inúmeros pensamentos com a Felicidade em pessoa e sequer desconfiar de
que se trata da tão almejada e singular pessoa! Seria também cruel, da parte
dela, omitir seu verdadeiro nome só para testar minha capacidade perceptiva
emocional. Nessa disputa meu desempenho é pífio, patético e pedante. Não posso
ser julgado pelo que me falta. Sempre ficaria devendo, em todos os quesitos.
Então, se ela é imparcial, precisaria ser, no mínimo, sincera comigo. Afinal,
tenho sentimentos! São tortos, instáveis, lastimáveis e tediosos, mas são
válidos, pois até agora nunca me descredenciaram nos sorrisos sinceros que já
emiti.
Só espero que ao encontrá-la, se
isso acontecer, ela não seja uma felicidade sem graça, de piadas pobres e chata
de se conversar. Precisa ser agradável no bate-papo, ter boa fluência nas
ideias e argumentos. E não pode ter a mentalidade fútil que se alastra tão
radicalmente entre as mulheres, provenientes desses romances de histórias
bonitinhas de amor, com pessoas perfeitinhas e estúpidas. De nada adiante eu
encontrar uma felicidade que se ache a última bolacha do pacote, que queira
“causar” entre os homens e olhe direto nos meus olhos e diga quase que
vomitando arrogância e prepotência: “se enxergue, baixinho esquisito, eu mereço
o mundo, não esses minguados abraços”...